Eu não sou uma pessoa do punk. Muito pelo contrário. Posso até dizer que sou uma das pessoas mais ecléticas que já conheci. Nas minhas playlists favoritas estão as declarações de amor da Ângela RoRo, os manifestos do Racionais MCs e as reflexões do Incubus. Porém, o álbum que marcou totalmente a história do punk é também aquele que marcou a minha vida: Horses, de Patti Smith.
Foi no ano de 2013, quando eu lidava com o último semestre da faculdade, que ouvi a poesia rebelde da norte-americana no meu fone de ouvido. Os primeiros segundos de "Redondo Beach" me fizeram aumentar o volume e prestar cada vez mais atenção àquela letra tão triste mas, de certa forma, extremamente ácida.
Patti, atualmente com 77 anos, talvez nem soubesse a revolução que seu álbum de estreia causaria. Lançado em 1975, Horses traz letras cercadas de desabafos, desilusões e medos, mas não deixa de lado a liberdade e a psicodelia, temas tão característicos do gênero musical que efervescia naquela década.
Com homenagens e referências que vão de Jimi Hendrix a Velvet Underground, o álbum abriu as portas para que a artista, que mescla o new wave e o rock em sua forma mais crua, se tornasse uma grande estrela que brilha até hoje. Em uma época em que os homens dominavam as rádios e os palcos, Patti vestiu suas músicas com mensagens feministas e com uma magnitude intelectual, que só mesmo uma poetisa rebelde e com causa, diga-se de passagem, poderia fazer.
Anos mais tarde, já encantada com Horses, me peguei vidrada por outro talento de Patti: suas memórias transformadas em livros. Ao terminar a biografia Só Garotos e o aclamado Linha M, consegui ter ainda mais certeza que, mesmo sem ser uma pessoa apaixonada pelo punk, eu tinha consagrado a madrinha do gênero como uma das minhas maiores admirações.