Garra de ferro é o nome do golpe que era a marca registrada do lutador Fritz Von Erich, famoso nos ringues norte-americanos de luta livre durante as décadas de 1950 e 1960. Com a mesma “garra de ferro” com que castigava seus adversários, Von Erich conduzia a família, e esta é a principal história do filme dirigido por Sean Durkin.
Fritz e a esposa Doris tiveram cinco filhos, todos homens. O mais velho morreu ainda criança, eletrocutado. A tragédia foi fundamental para que a família passasse a acreditar que pairava sobre eles uma maldição, numa espécie de profecia autorrealizável que os irmãos carregaram a partir de então.
Garra de Ferro é um longa sobre laços familiares, sim, mas também trata de um tipo bastante específico de paternidade tóxica, cujo exemplo mais conhecido talvez seja Joe Jackson. O pai de Michael Jackson ficou famoso por impor aos filhos uma rotina rígida e violenta de ensaios, xingamentos e surras. Tudo em nome de um suposto perfeccionismo que garantisse ao Jackson Five um lugar entre os grandes da música. O modus operandi de Joe impediu o mundo de saber se o sucesso do conjunto seria conquistado mesmo sem as humilhações conduzidas em casa.
O controle que Fritz Von Erich (interpretado brilhantemente por Holt McCallany) impõe à sua prole tem mais de abuso psicológico do que físico, ao menos da forma como é retratado no filme. O pai tem uma fixação pelo título mundial, vitória que lhe faltou durante a carreira profissional, e cobra que os filhos alcancem o cinturão. Não importa nem mesmo que um deles prefira a música ao esporte, por exemplo.
Nesse lar tradicional de “cidadãos de bem” norte-americanos na virada dos anos 70 pra 80, onde as bíblias e as armas dividem espaço entre as paredes, há muito pouco espaço para o diálogo. Numa das cenas, um dos irmãos vai até a mãe dizendo que quer conversar sobre algo que lhe causa angústia. Ela o dispensa rapidamente, dizendo que conversar é uma função dos irmãos. A indisponibilidade para um diálogo franco, aberto, chama a atenção e vai cobrar seu preço.
Enquanto isso, o pai mantém um ranking entre os filhos para apontar quem é o favorito da vez. Tudo muito saudável, como você pode imaginar. Não à toa, forma-se um barril de pólvora que explode algumas vezes durante a trama, principalmente na segunda metade.
A escolha de Zac Efron e Jeremy Allen White (revelado como o chef de cozinha protagonista da série O Urso) para os papéis de Kevin e Kerry, os dois irmãos que recebem mais atenção do roteiro, é outro acerto de Garra de Ferro. Isso porque, mesmo sob os músculos que ganharam para interpretar os personagens, ambos os atores conservam uma inocência quase infantil no olhar. São meninos condenados a buscar a aprovação do pai por toda a vida, e ao mesmo tempo parceiros e cúmplices dentro daquela prisão metafórica.
Além de cineasta, Durkin é um fã assumido de luta livre. Mesmo assim, ele não hesita em deixar em segundo plano os combates em cima do ringue. Quem assistir ao filme esperando socos, pontapés e sangue será surpreendido por algo que pode ser até mais violento, mas não deixa marcas aparentes no corpo: os sentimentos reprimidos.

