Recentemente revi Oppenheimer, depois de ter visto o filme apenas na tela do cinema. A intenção era confirmar que, num ano de nível tão alto entre os indicados ao Oscar, o prêmio principal tinha ficado em boas mãos. Não que fosse o meu favorito particular, mas eu entendo a escolha dos votantes da Academia.
O longa só fica ainda mais grandioso na revisão. O roteiro é brilhantemente construído, enquanto a montagem invoca todo o caos e a complexidade que existiram dentro daquela mente.
As idas e vindas no tempo também criam essa imagem de Oppenheimer como um homem todo bagunçado que briga com o cientista brilhante dentro de si. Mas o que eu mais gosto dentro desse combo “roteiro + montagem” é a cereja do bolo: a trilha-sonora. É muito emocionante.
Cillian Murphy realmente foi o melhor ator indicado ao Oscar desse ano — e muito disso vem da emoção contida que ele expõe em seu jeito de andar, no seu olhar e em seus gestos. Coração e razão condensados em uma técnica absurdamente bem executada. É um show completo o que ele faz.
E a cena da maçã envenenada é a metáfora perfeita que só percebi depois: Robert tem o poder de destruir algo, mas ao pegá-la de volta, mostra que tem a consciência de que pode ferir o outro. Quando ele sai correndo e pega a maçã, demonstra empatia. Parece uma cena simples, mas, com o espectador já sabendo qual será sua maior criação, essa cena ajuda na humanização. Essa dualidade permanece até o fim: Oppenheimer sabe que o que está fazendo será um milhão de vezes pior do que uma maçã envenenada, mas ainda assim continua no mesmo caminho. Por que? É o homem contra o cientista, a emoção contra a ambição, a ingenuidade contra uma sensação de controle que, mais tarde, ele verá que sempre foi falsa.
Já nasceu um clássico.
(O único demérito de Oppenheimer é, sem dúvidas, a forma como Nolan enxerga as mulheres em seu filme (e as de outros trabalhos ao longo da sua carreira). Emily Blunt consegue ir um pouco além da mãe/esposa/dona de casa melancólica que fica na sombra do marido, mas a personagem de Florence Pugh realmente não funciona. Ela é só um corpo, uma vítima que também fica nas sombras de Oppenheimer — e a cena de sexo durante o depoimento não somente pouco adiciona à narrativa como também é um tanto constrangedora.)

