Oppenheimer
Christopher Nolan, 2023
Uma revisão para confirmar que os 7 Oscars ganhos pelo filme, num ano em que a disputa tinha ótimos títulos, tiveram seus motivos.

Por Barbara Demerov

Publicado em 31 de março de 2024 às 12:56

Onde assistir

Recentemente revi Oppenheimer, depois de ter visto o filme apenas na tela do cinema. A intenção era confirmar que, num ano de nível tão alto entre os indicados ao Oscar, o prêmio principal tinha ficado em boas mãos. Não que fosse o meu favorito particular, mas eu entendo a escolha dos votantes da Academia.

O longa só fica ainda mais grandioso na revisão. O roteiro é brilhantemente construído, enquanto a montagem invoca todo o caos e a complexidade que existiram dentro daquela mente.

As idas e vindas no tempo também criam essa imagem de Oppenheimer como um homem todo bagunçado que briga com o cientista brilhante dentro de si. Mas o que eu mais gosto dentro desse combo “roteiro + montagem” é a cereja do bolo: a trilha-sonora. É muito emocionante.

Cillian Murphy realmente foi o melhor ator indicado ao Oscar desse ano — e muito disso vem da emoção contida que ele expõe em seu jeito de andar, no seu olhar e em seus gestos. Coração e razão condensados em uma técnica absurdamente bem executada. É um show completo o que ele faz.

E a cena da maçã envenenada é a metáfora perfeita que só percebi depois: Robert tem o poder de destruir algo, mas ao pegá-la de volta, mostra que tem a consciência de que pode ferir o outro. Quando ele sai correndo e pega a maçã, demonstra empatia. Parece uma cena simples, mas, com o espectador já sabendo qual será sua maior criação, essa cena ajuda na humanização. Essa dualidade permanece até o fim: Oppenheimer sabe que o que está fazendo será um milhão de vezes pior do que uma maçã envenenada, mas ainda assim continua no mesmo caminho. Por que? É o homem contra o cientista, a emoção contra a ambição, a ingenuidade contra uma sensação de controle que, mais tarde, ele verá que sempre foi falsa.

Já nasceu um clássico.

(O único demérito de Oppenheimer é, sem dúvidas, a forma como Nolan enxerga as mulheres em seu filme (e as de outros trabalhos ao longo da sua carreira). Emily Blunt consegue ir um pouco além da mãe/esposa/dona de casa melancólica que fica na sombra do marido, mas a personagem de Florence Pugh realmente não funciona. Ela é só um corpo, uma vítima que também fica nas sombras de Oppenheimer — e a cena de sexo durante o depoimento não somente pouco adiciona à narrativa como também é um tanto constrangedora.)

1 LIVRO, 1 DISCO, 1 FILME que dialogam com Oppenheimer

Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano, Kai Bird e Martin J. Sherwin (2006)
Lançado no Brasil 18 anos depois da publicação original, justamente para pegar carona no sucesso do filme de Nolan, o livro no qual o diretor baseou seu roteiro é um mergulho ainda mais aprofundado na vida do físico. Venceu o prêmio Pulitzer de melhor biografia em 2006.
Trilha Sonora de Oppenheimer, Ludwig Goransson (2023)
Vencedora do Oscar, a trilha grandiosa e impactante merece ser ouvida de forma "solo", para ser apreciada em toda sua plenitude. O compositor sueco é vencedor também do Emmy e do Grammy por trabalhos anteriores.
Anatomia do Medo, Akira Kurosawa (1955)
Para quem sentiu falta de Nolan mostrar o lado dos japoneses na história da bomba atômica, vale procurar essa obra que exemplifica um pouco do trauma que pairou sobre a Terra do Sol Nascente após a tragédia.

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